quarta-feira, abril 18, 2007

Tristemente

No falecimento de Dona Adelaide
mãe de Gilson Vasconcelos


1.1 A Bia me ligou que sua mãe morreu.
O trabalho estancado. Pausa oca.

Vontade de dizer: Moringueira.
Disfarçado na ternura elástica de um abraço telefônico até a prefeitura de Santa Adélia — que o afagasse forte e intensamente. Você não estava.

Eu distante.
Os colegas apartearão: Que se passa?
Tossirei: é uma triste saudade de Vinícius,
Sem dizer que é de você.

Na alameda Lorena vejo.
No vôo de cada pássaro vejo.
No lenço que levo aos olhos: Moringueira.
Nos papéis de ofício: Moringueira
Em qualquer ofício de Prefeitura: Santa Adélia
— Anoitecendo... Moringueira.
Em cada estrela que surge: Moringueira.
É sempre o mesmo amigo. Outro
O sorriso que vagueia.

1.1 Penso : amanhã vou a sua casa.
—Mas você não terá retornado.
Indecisão: irei pra Botucatu?
Pouco importa. Meu passeio rotineiro e na serra
Será útil.
Pasmarei: há quando tempo não via você?
Foi espera de poesia?
Poesia presa no coração...

1.2 Ser poeta (eu aceitei)
É viver humildemente
Daquilo que se escreve —
Mais do que se vive.

Lúcido retorno pra casa.
Triste, e a noite vazia.
Rudemente na cama nua
Pago o preço da poesia.