“Guerra diária”
Para Renata Pallottini
Paixão de escrever
não sou mais capaz
de vivenciar-te?
Áspera solidão
já fui mais capaz
de resistir-te.
Quando se tem vinte anos
é fácil morrer de dor
é fácil morrer de amor.
Restam sempre outras mortes
para serem vivenciadas
no desencontro de amores
e nas fundas solidões.
Mas onde minha obra prima,
penhor do meu sono,
avidez matinal,
minha fuga para o mato... e beber-te, Poesia, onde?
*
O tempo nos submerge.
Silenciosamente as doenças se infiltram.
Morrem companheiros, morrem
ilusões, amadas exuberantes.
Os naufrágios. As decepções. Os desentendimentos.
O cansaço. As injustiças. A impostura da mediocridade.
Já fui eterno
(raso remanso)
hoje envelheço
(água de poço)
contida e funda:
o poeta mais denso.
A poesia mais densa.
Mas a guerra não cessa
(não há mais alimento
a munição acabou)
não deixo mais rastro
ninguém mais me acredita...
Salvo meu coração de artista
validando esta guerra diária:
— Todavia, um ato de paz.
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