Filho
I/Invocação do vovô
É a presença do pai
Na tua presença escondida.
É o projetado amor
(no pai vivido em silêncio)
novamente inaugurado
embora calado, ainda.
É a vida teimosa
reinventando seu fio.
É o início do perene
saltando de um perene antigo.
II / Oferta
És uma nova edição
de meus poemas arquivados
que só tua poesia explica
e sublinha alguma valia.
És um poema novo
em mim-meu-caderno-velho.
És meu caderno novo
que, no ventre, se inicia!
És todo um imprevisto
Com que jamais eu sonharia.
És meu poema possível
Que oferto a todos os homens.
III / Embrião
Eu falando tanto do perene
e surges – embrião entre quimeras –
tecendo o arco íris tão sonhado
sobre o abismo de duas eras.
O casarão da família
rende viril continência
à tua presença futura
marcada, antes do tempo, no meu tempo!
IV / Presságio
Um filho não chega nunca
de vez.
Um filho chega sempre
Na medida em que sentimos
A incontinência do sangue...
De ruídos celestiais
a casa fica cheia.
Sentir-te, filho, com a alma de Botucatu
e querer que da terra te lances pro ar!...
Desejo de ver-te
cobrir-te de passarinhos
ensinar-te o vôo arranhando céus
- que apenas pressinto –
O rancho das nuvens aberto...
Mas é noite ainda.
V / Paz
Contudo, filho procurar-te no escuro
nos aproxima a madrugada
que as estrelas do cenário anunciam.
Tua promessa de vinda nos penetra
e adivinhamos a tua paz
que repartirás com todos.
A natureza se harmoniza
Na certeza de tua vinda.
E a música se orvalha
para cantar o teu dia
VI / Chegança
És a chegança do mar
em nossas praias antes vazias.
És o eterno que procuramos
desde quando nasceram nossas vidas!
VII / Festa
É luz nova explodida
avançando a escuridão.
São as festas sempre boas
se festejadas por precisão.
VIII / Para sempre
É a poesia escrita no céu
Por todo poeta amigo ou familiar
É nosso filho-poema
Em signos de conclusão.
Ele é nascido pra sempre:
Ordem da humana criação.
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